A cana de açúcar chegou ao Brasil no século XVI, com o regime de Capitanias Hereditárias estabelecidas por D. João III. Esse cultivo sustentou a manutenção do monopólio do comércio mundial do açúcar por Portugal durante vários séculos. O primeiro alvará da introdução da cana-de-açúcar no Brasil é de 1516, expedido por D. Manuel, rei de Portugal. As primeiras mudas vieram com Martim Afonso de Souza, em 1532. Mas foi sob Duarte Coelho que a Capitania de Pernambuco construiu muitos engenhos.
Ficavam nas encostas da Serra do Mar, na Zona da Mata e beiras dos rios que pudessem favorecer o transporte fluvial até os oceanos e daí sua exportação por caravelas. Não havia qualquer infraestrutura de transporte terrestre e o que predominava era o fluvial, uma vez que Portugal proibia a construção de estradas na colônia. Em 1538, a cana de açúcar chegou à capitania da Bahia e em 1575, à de Alagoas. Dezessete anos depois da introdução, haviam 23 engenhos só em Pernambuco. Quase cem anos depois, em 1615, a cana-de-açúcar chegou ao planalto central na região de Itu, SP.
Ao lembrarmos que o transporte de carga acontecia só por carroças, tropas, canoas e barcos, principalmente focado nos rios próximos ao litoral, isso explica porque se espalhou primeiramente no nordeste. As viagens das caravelas para a Europa eram bem mais curtas partindo dos portos nordestinos. A mão-de-obra escrava era conveniente à manutenção dos custos baixos na produção e a nova colônia enriqueceu Portugal ao espalhar o açúcar brasileiro por toda a Europa.
Até então, o açúcar só era usado pelos europeus como remédio e de forma comedida para adoçar os pratos comprados em boticas. O aumento das exportações de açúcar para a Europa fez da canavicultura o setor mais importante da economia colonial brasileira. O primeiro engenho nordestino foi o de N. S. da Ajuda, em Pernambuco, em 1535, enquanto no sul do Brasil o primeiro da Capitania de S. Vicente, foi criado por Martim Afonso de Souza, em 1532. A partir de 1538, os plantios e engenhos se espalharam pelas margens da Baía de Todos os Santos.
A terra virgem e escura da região, o massapê, favorecia a expansão rápida da canavicultura. Quando os holandeses tomaram uma região, que é hoje de Pernambuco, e começaram a financiar a recuperação dos engenhos antigos, isso incomodou a Portugal, que pagou à Holanda um pesado ônus com o ouro brasileiro para que eles saíssem do Brasil, apesar do pano de fundo da tal guerra contra os holandeses. Até à revolução industrial, do fim do século XIX, a canavicultura só foi significativa no nordeste, mas a valorização do café a partir de 1805 diminuiu a expressão econômica da cana de açúcar e provocou o fechamento de muitos engenhos.
Mas foi o advento dos transportes rodoviários, no início do século XX, que começou a redesenhar toda a economia agrícola do Brasil e de todo o mundo. Em 1931, um Decreto de Vargas determinou a mistura de 5% de etanol em toda gasolina importada e em 1933 criou o IAA, para organização e disciplina do setor. Foi nessa época que a área de cana do estado de São Paulo passou a superar a área do Nordeste. Em 1955 a área de cana de açúcar no Brasil era próxima de 1 milhão de hectares, mas foi a crise do petróleo de 1973 que estimulou a idealização do Proálcool implantado a partir de 1975.
Nessa época, em apenas 20 anos, já haviam 1,9 milhões de hectares de cana-de-açúcar no Brasil, com produtividade média de 46,8 TCH. Nove anos depois, em 1984, essa área dobrava para 3,86 milhões de hactares, e a produtividade estava em 62,6 TCH. Até 1991, a produtividade da cana não evoluiu, embora já houvesse 4,24 milhões de hectares no Brasil.
A evolução da produtividade foi pequena até o ano 2000, de apenas de 7,8% para 67,5 TCH, enquanto a área ocupada encolheu para 4,82 milhões de hectares, depois do ápice de 5 milhões de hectares em 1998. No entanto, enquanto retomava sua expansão para 5,62 milhões de hectares em 2005, a produtividade da cana deu verdadeiro salto para 72,8 TCH.
Desde então a expansão da canavicultura foi explosiva, chegando aos 9,7 milhões de hectares em 2009 com produtividade de 80,2 TCH. A crise econômica mundial de 2008 e as adversidades climáticas, de 2011 e 2012, tiveram forte impacto na produtividade brasileira e reduziu a velocidade na expansão de área ocupada, que atingiu 10,5 milhões de hectares em junho de 2013, segundo o IBGE. As projeções técnicas estimam que só nessa safra 2015/16 que o Brasil superará a produtividade de 2009, com bem mais de 80 TCH e área total de quase 11 milhões de hectares.
De acordo com o site Embrapa Soja, na safra de 2015/16, o Brasil apresentou a produção de 95,631 milhões de toneladas de soja, enquanto foram produzidas 658,700 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Comparando com a década de 80, quando a soja começou a se destacar como principal cultura do agronegócio, foram produzidas 15 milhões de toneladas de soja e 68,300 milhões de toneladas de cana. Assim sendo, de lá para cá, houve crescimento de 6,37 vezes da soja e 9,64 vezes da cana. Para produzir 95,631 milhões de toneladas de soja são utilizados 33,170 milhões de hectares, enquanto que para produzir 658,700 milhões de toneladas de cana-de-açúcar são utilizados somente 8,995 milhões de hectares, ou seja, 27,11% do utilizado pela soja.
Nutrição da cana de açúcar
A história da nutrição de plantas no Brasil é muito recente e, efetivamente, só pode ser considerada importante após a Segunda Guerra Mundial, com a chegada dos caminhões e a implantação da infraestrutura rodoviária para atender ao comércio internacional. Até 1900, a produtividade brasileira de grãos era de apenas 1 T/ha, sem corretivos e sem adubos no conceito como são conhecidos hoje. Em 1950 atingia 3 T/ha, mas já com um pouco de corretivos e fertilizantes básicos. Em 1990, a produtividade de grãos atingiu as 10 T/ha e, de lá para cá, continua crescendo de forma surpreendente. A evolução do consumo mundial de nutrientes básicos explica grande parte dessa evolução: 1 milhão de toneladas de NPK em 1900, 17 milhões de toneladas em 1950 e 130 milhões de toneladas em 1980 e mais 400 milhões em 2015.
De 1800 a 1880, os fertilizantes de conhecimento e uso universal eram os Guanos do Perú (gigantescas dunas de depósitos milenares de matéria orgânica com esqueletos de aves decompostos em ilhas do pacífico peruano) e o Salitre do Chile (nitrato de sódio) da mineração a céu aberto, controlada pelos ingleses. De 1880 a 1910 aconteceu a industrialização de patente de Von Liebig, de 1840, que deu origem aos superfosfatos, a partir da acidulação de ossos descartados com ácido sulfúrico. Com o Decreto Real proibindo o uso de ossos, começou a substituição por fosfatos minerais, cuja qualidade como matéria prima continuou sendo avaliada pelo índice BPL (Bone Phosphate Liquid).
O BPL ainda hoje é um termo de uso comum na indústria do ácido fosfórico para expressar o teor efetivo de fósforo da rocha que pode ser recuperado para fins de produção do ácido fosfórico.
A cana só conheceu a adubação nitrogenada mineral a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, porque a síntese da amônia só ficou economicamente viável no início dos anos 40 e, primeiramente, com fins militares. Dela derivou o nitrato de amônio, também com fins militares, e depois os fosfatos amoniados (DAP, MAP, FAP, etc). O uso de fertilizantes básicos (NPK) e a calagem (CaMg) pela cana, de forma técnica e em maior escala, começou nos anos 70 e 80.
As aplicações de gesso agrícola só começaram a ter respaldo técnico relevante já no século XXI, mas o tema ainda é passível de discussão. No fim dos anos 70 e início dos 80, os trabalhos da brasileira naturalizada Engª Agrª Johanna Döbereiner, no Instituto de Seropédica da Escola Nacional de Agronomia (ENA), identificou pelo menos oito gêneros de bactérias diazotróficas que se associavam em simbiose com a cana-de-açúcar. Daí em diante começou o questionamento sobre a efetiva necessidade de adubação nitrogenada mineral na cana.
A tese do Engº Agrº Emídio Cantídio, publicada pela ESALQ em abril de 2011, confirmou, mais uma vez e em três tipos de solos do Estado de São Paulo, os mais usados no cultivo da cana de açúcar, que não houve resposta significativa da soca às adubações nitrogenadas, desde 40 até 120 Kg N/ha. Na cana planta apenas no LVe houve uma pequena resposta à adubação de até 40 kg N/ha no plantio. Para entendermos esse conflito é prudente lembrarmos de que o paradigma atual, da aplicação de fertilizantes nitrogenados minerais na cana de açúcar, deriva da ciência agronômica de países temperados onde a temperatura média do solo é de 10 a 20ºC menor do que nos tropicais.
Ora, é sabido que o ótimo para a atividade das bactérias diazotróficas está nas temperaturas entre 32 e 42° C, que são comuns no ambiente tropical. No entanto, a partir do advento dos fertilizantes nitrogenados, nos anos 40, o paradigma da adubação nitrogenada mineral foi instituído na ciência agronômica tropical emanada de países temperados. São compreensíveis, portanto, as resistências emocionais da nossa geração, a geração NPK, do século XX, a eliminação da adubação nitrogenada na cana-de-açúcar.
Mais compreensível ainda é a resistência dos melhores executivos que lidam com a responsabilidade das decisões sobre a nutrição da cana de açúcar. Entretanto, a meu juízo, essa quebra de paradigma já aconteceu e prosseguirá gradativamente, à medida que a evidência dos fatos de campo e dos ensaios demonstrarem que essa recomendação tradicional foi colocada em xeque. Filosoficamente, a meu ver, é inconcebível que um cultivo simbionte, como o da cana, agronomicamente muito mais eficiente do que as leguminosas, continue recebendo adubações nitrogenadas minerais.
Por sinal, trabalhos mais recentes focados na nutrição dessas bactérias diazotróficas endofíticas através da própria planta hospedeira, que é a cana-de-açúcar, tem provado que é exequível e rentável a eliminação da prática de uso de nitrogenados minerais na cana.
A questão agora é outra: como nutrirmos adequadamente essas maravilhosas bactérias diazotróficas endofíticas para aumentarmos a produtividade do canavial?
Nutrientes básicos (fornecedores de alcalinidade): Ca++, Mg++, K+.
A demanda de potássio pela cana embora maior é reconhecidamente semelhante à do cálcio, no entanto, a “prática agrícola” desse manejo só executa a reposição anual do potássio. A do cálcio e magnésio tem sido negligenciada e somente considerada exequível pelo calcário incorporado. Assim, a reposição de cálcio e magnésio só é praticada com a substituição da soqueira. Na verdade, muito mais por motivos emocionais do que técnicos, a classificação acadêmica do cálcio e magnésio como nutrientes secundários trouxe para o mercado a conotação de que cálcio e magnésio são menos importantes que o NPK, o que tem sido um equívoco de consequências desastrosas para a produtividade e longevidade dos canaviais. Afinal ninguém tem dinheiro para investir no secundário. A meu juízo, a simples prática da reposição anual do cálcio e do magnésio por fertilizantes solúveis, como a já praticada para os outros macronutrientes, por exemplo, trará novos aumentos de produtividade (como demonstrada nas pesquisas desse autor com a UFSCar), reduzirá o custo final da cana na esteira e ampliará a longevidade dos canaviais.
- Enxofre: A meu ver, a maneira mais racional de assegurar um bom suprimento de enxofre prontamente disponível é pelo manejo do magnésio com o sulfato de magnésio. Esse fertilizante muito solúvel tem o teor de enxofre sempre 1/3 a maior do que o de magnésio, assim, seu uso habitual eliminará as preocupações com o suprimento de enxofre à cana.
- Fósforo: é o nutriente cujo manejo representa o maior desafio para o saber agronômico, especialmente em solos tropicais. Vamos a algumas das considerações mais comuns:
Muitos questionam a eficiência dos fosfatos naturais e a solubilidade em determinados extratores. Os fosfatos naturais apresentam eficiência agronômica conforme a sua origem e condição química: uns são de origem magmática, onde a apatita já está cristalizada, dura e, por isso, de baixa reatividade química. Outros são de origem sedimentar e, portanto, submetidos a vários tipos e grau de intemperismo onde o mais comum é a substituição isomórfica, fenômeno de morfogênese natural em que alguns dos radicais PO4’’’da micela são substituídos por radicais F’, CO3”, OH’, etc, constituindo as fluorapatitas, carbonatoapatitas, hidroxiapatitas, etc.
Quanto maior o grau de carbonatação intramicelar, por exemplo, maior é a reatividade química do minério, uma vez que o mineral de fósforo continua sendo o mesmo, a apatita. Maior carbonatação, além de desestabilizar a estrutura do cristal, agrega mais energia à micela e, portanto, menor será a quantidade de energia exigida do sistema para romper a estrutura do cristal de apatita. A fonte externa de energia mais comum é o ácido sulfúrico a 70% usado na indústria do ácido fosfórico. Os denominados fosfatos orgânicos, mais conhecidos como fosforitas, normalmente tem estrutura química amorfa e as jazidas já estão associadas, em sua maioria, aos imensos depósitos milenares de dejetos de animais.
Nessas jazidas o fosfato não é derivado direto da apatita mineral, mas da decomposição dos esqueletos durante a gênese da jazida e, por isso, têm boa reatividade com os extratores de ácidos orgânicos. O índice original para avaliar a qualidade das matérias primas nas primeiras fábricas de superfosfatos do séculos XIX era o BPL. A normatização da qualidade dos fosfatos magmáticos, sedimentares e orgânicos, aconteceu no século XX por extratores ácidos orgânicos. Para ser considerado reativo o fosfato natural precisa ter mais de 55% de seu fósforo total solúvel em ácido cítrico a 2% na proporção 1:100. Nos testes, com extratores ácido cítrico e/ou ácido fórmico, ambos na baixa concentração de 2%, a relação amostra x extrator é de 1:100.
Industrialmente a reatividade da rocha fosfática (rompimento do cristal de apatita) depende da quantidade de energia que a micela encerra naturalmente e da quantidade de energia externa exigida do sistema (a solução de ácido forte é a fonte primária de energia), porque só pelo rompimento do cristal da apatita o cálcio é liberado.
Esse, uma vez liberado, reage imediatamente com o radical mineral disponível (sulfato no caso do ácido sulfúrico), constituindo um cristal insolúvel. Esse cristal tanto poderá permanecer no sistema, como no caso do superfosfato simples em que quase 50% é gesso dihidratado, como poderá ser removido a exemplo do que acontece na produção do ácido fosfórico. Os estudos da reatividade dos fosfatos naturais demonstram que quanto maior o grau de substituição isomórfica por carbonato (entrada de CO2 na micela) menor é a quantidade de energia externa requerida para rompimento do cristal da apatita. Nas minas de fosfato existem outros tipos de substituição isomórficas no mineral de menor importância, mas o que importa é o quantum de energia que tais substituições acrescentam à micela para favorecer seu rompimento químico durante o ataque ácido.
O suprimento de fósforo às plantas é, portanto, um tema antigo e cheio de crenças, derivadas em sua maioria de sofismas com a química da nutrição de plantas. O estudo dessa nutrição evoluiu radicalmente na última década, mas os obstáculos às alternativas para a da nutrição de fósforo persistem no ambiente das crenças e do “eu acho”, sempre suportadas por sofismas e paradigmas superados. Quando um cientista estuda e propõe sua tese ele sempre parte de premissas e, a seu julgamento, propõe sua melhor conclusão lógica como a verdade mais provável.
Contudo, é o conhecimento novo e o tempo de sua sedimentação que, na maioria das vezes, irá confirmar ou contestar a conclusão proposta na tese. É dessa forma que a ciência e a humanidade evoluem. Nesse momento, por exemplo, estamos vivenciando, no estudo do fósforo, um processo lógico que serve tanto para suportar sofismas quanto a silogismos. As premissas de tais raciocínios são:
- O fósforo só entra na planta se estiver disponível na água que ela absorve, seja pela raiz ou pela epiderme da parte aérea;
- A forma prontamente disponível do fósforo em água é o ânion monovalente H2PO4’;
- Quimicamente esse ânion é um tipo de especiação que predomina na solução quando a faixa de pH está entre 2 e 6,5 e máxima ao pH 4 a 5, mas nessa faixa o ânion é muito reativo com cátions metálicos em soluções muito diluídas, como a solução do solo. Assim no ambiente químico do solo a tendência mais evidente é pela formação de sais estáveis (fosfatos metálicos) de solubilidade muito baixa (Al> Fe> Mn> Mg> Zn> Ca> Cu> Co, etc);
- A formação desses sais estáveis na solução do solo é, na verdade, o principal agente da fixação “irreversível” do fósforo e o maior responsável pela baixa mobilidade do ânion nos solos tropicais, 1 a 2 cm/ano;
- A eficiência do fósforo como nutriente de planta via solo é muito baixa, da ordem de 5 a 10%, e diminui rapidamente com a diminuição do pH, além de ser sempre menor em solos mais argilosos;
- A eficiência do fósforo via folha varia de 40 a 80% na dependência do pH da solução nutritiva e do tipo de coadjuvante estimulador da absorção ativa;
- Depois que entra na planta a mobilidade do fósforo é uma das maiores que se conhece e, talvez, o único nutriente que consegue ir do floema diretamente ao xilema e vice versa;
- A competição química dos cátions metálicos pelo ânion dihidrogenofosfato é maior na solução do solo do que na solução cuticular, porque as propriedades ambivalentes da cutina equilibram melhor as trocas catiônica e aniônica.
Essas premissas permitem concluir que a aplicação do fósforo no solo ou na folha é uma simples questão econômica, que envolve a avaliação do retorno do investimento e o pay back pretendido. Respostas rápidas com pay back menor e investimento maior implicam na rota via folha. Via solo o investimento será sempre menor do que via folha, mas o pay back será maior.
Avaliando apenas as opções via solo:
1. Para pay back menor o caminho serão os fosfatos acidificados (TSP, MAP, DAP, SSP) e a opção por cada espécie de fertilizante implicará no custo da unidade de P solúvel em água considerada já aplicada ao solo, porque a diferença de desempenho do P em cada uma delas é incipiente para priorizá-las quanto à qualidade.
2. Os fosfatos naturais reativos sempre terão pay back maior que os fosfatos acidificados e investimento menor. Além disso, apenas entre os fosfatos naturais, quanto mais quimicamente substituídos por carbonato eles forem, menor será o pay back e maior o investimento. No passado, anos 60, esses fosfatos receberam a “marca” de hiperfosfatos e provinham dos depósitos orgânicos, como das Fosforitas de Gafsa e do Marrocos, mas a roupagem do marketing, em sua essência, não era significativamente diferente da que é usada agora para os fosfatos denominados reativos e que, na verdade, não são mais as fosforitas. Até a experimentação científica e as demonstrações práticas de desempenhos mais recentes se assemelham às realizadas para os hiperfosfatos dos anos 60 e 70, com conclusões quase idênticas às usadas para fosfatos sedimentares.
Do ponto de vista da planta, o que interessa mesmo é o quantum de fósforo estará na solução que será absorvida, independentemente de ser via solo ou foliar. Enquanto o fósforo não estiver biodisponível, isto é, no simplasto, é irrelevante para a planta a sua procedência. Esse nutriente é o maior responsável pela conservação, troca e disponibilização da energia biológica de todo metabolismo celular. Qualquer limitação à biodisponibilidade de fósforo tem consequências no metabolismo da planta como um todo, porém a sua expressão econômica na safra dependerá do grau da limitação, duração, tipo e época.
O fósforo é o nutriente mais caro para nutrição de plantas, porque sua eficiência relativa é uma das menores. De cada R$100 reais investidos em fósforo aplicado via solo apenas de R$5 é efetivamente usado pela planta, para alguns mais otimistas essa utilidade chegaria a R$10, o que continua sendo muito pouco. Nos poucos trabalhos de fisiologia sobre a aplicação de fósforo pela via foliar o valor da eficiência relativa foi estimado entre 60 e 90%, o que indica excelente potencial para ser explorado pela tecnologia da nutrição. Especialmente diante do fato de que a necessidade de fósforo pelas plantas é a menor entre os macronutrientes, em média 10% da quantidade do N ou do K, entretanto, essa mesma quantidade de P é dez vezes maior do que a de qualquer um dos principais micronutrientes ferro ou manganês.
Na planta as principais funções e atividades do fósforo acontecem através das enzimas da energia: AMP, ADP, ATP, NAP, NADPH e de outras de mesma importância, como a fosfato-sacarose-sintetase. Assim, em atividade química, o fósforo se assemelha muito mais do que difere das atividades dos micronutrientes. A atuação fisiológica predominante do fósforo é sempre sob a forma de íon monofosfato (H2PO4’), sem que haja transformação química para outros estágios de oxidação do P.
Do ponto de vista prático, é evidente que se, hipoteticamente, desenvolvermos uma ferramenta tecnológica, provavelmente uma formulação mais eficaz pela via foliar, a inferência, fundada nos poucos dados de correspondência que existem, é de que estará entre 12 a 15 x 1. Tal formulação, por sua vez, poderá ter radicais ou ramificações orgânicas na estrutura como aditivos de desempenho, por exemplo, facilitadores da absorção ativa do íon e aumentar sua eficácia nutricional. Em termos de pH da solução nutritiva para nutrição foliar com fósforo, ainda prevalecem discordâncias por falta de experimentação comparativa. Uns defendem ambiente ácido de pH 2,5 a 4 para a solução e outros, como esse autor, pH ligeiramente ácido entre 5,5 e 6,5, porque essa é a faixa de maior eficiência das enzimas da energia.
Em termos da janela fisiológica para a cana de açúcar o gráfico sigmoide da absorção acumulada do fósforo indica um primeiro período mais adequado e provável o que vai dos 80 a 100 dias da germinação, correspondente ao estágio do fim da fase de perfilhamento. Nessa fase o foco é a quantidade de energia metabólica envolvida na garantia da sobrevivência de mais perfilhos e, também, suporte quantitativo ao futuro alongamento dos internódios do colmo na fase seguinte. A segunda janela fisiológica corresponde ao do fim do alongamento do colmo, 180 a 220 da germinação, focando tanto o alongamento dos últimos internódios, que normalmente ficam mais curtos por falta de P, como aumento da eficiência da enzima fosfato–sacarose–sintetase, a maior responsável pelo acúmulo de açúcar e brix final do caldo, portanto, do ATR.
Pesquisa na Índia e duas desse autor, em canaviais de 4º e 6º corte da região de Uberaba, mostraram coerência nas inferências sobre janelas fisiológicas com a sigmoide da acumulação de fósforo pela cana. A dose testada foi de 5 e 12 kg de PO/ha em uma e duas épocas de aplicação. Trabalhos mais recentes desse autor demonstraram que o uso no solo de formulações fluidas alcalinas, como 00-40-80, 00-30-30, 00-30-24, aumentaram significativamente a mobilidade do P no solo, antevendo a possibilidade de dose bem menores para os mesmos resultados.
A dinâmica do P e seus efeitos nas safras continuarão temas apaixonantes no ambiente da nutrição de plantas. Aprenderemos mais e mais rápido à medida que removermos aquelas nossas “crenças” que tem obstado a discussão objetiva de outras vias e técnicas, como a nutrição foliar com P (e é bom não confundir nutrição foliar e adubação foliar), mas isso será assunto para outro debate. Crença, sem dúvidas, é comportamento humano, natural e compreensível.
Pela opção de crer o indivíduo aceita e defende como verdadeiro, mesmo que irracional, as descrições e deduções lógicas que lhe são bem “vendidas”. Entretanto, não é raro nos esquecermos de que a mesma lógica dos silogismos é a que nos leva aos “sofismas técnicos”. Durante milênios acreditávamos na “verdade científica” de que a terra era plana e centro do universo. Galileo Galilei ao externar sua discordância científica e defender Copérnico “pegou trinta anos de cana” por contestar o dogma da “infalibilidade papal”. Espero não sofrer o mesmo por defender uma avaliação mais justa da nutrição foliar com fósforo e a aplicação de fósforo alcalino via solos.
Micronutrientes
A descoberta da essencialidade do carbono, oxigênio e hidrogênio para as plantas aconteceu no século XVIII, mas sua aplicação prática só aconteceu no século XIX. A descoberta da essencialidade para as plantas do NPK e do CaMgS aconteceu no século XIX e, naturalmente, o uso prático de tais conhecimentos aconteceu ao longo do século XX. Na verdade, a quase totalidade dos técnicos que administram a produção agrícola da cana de açúcar é da “geração do NPK”, a geração do século XX. Contudo, surpreendentemente, ainda praticamos, por exemplo, o manejo dos calcários quase que da mesma forma como nossos avós.
A descoberta da essencialidade dos micronutrientes para as plantas aconteceu no século XX. A do Selênio em 1984 e a do Ni em 1988, entretanto, só depois de 1951 pelo emprego de radioisótopos nas pesquisas agrobiológicas que a agronomia começou a decifrar a dinâmica da absorção foliar. Antes disso não havia sequer o conhecimento para discutir a nutrição foliar com suas propriedades técnicas e científicas. Foi nos anos 70 que a produção de fertilizantes foliares de micronutrientes começou a se tornar uma atividade econômica no mundo. Nos EUA o pioneirismo coube à Chevron, com seu Ortho Nutrient Spray D para cítricos. No Brasil esse autor idealizou a primeira fábrica de fertilizantes foliares mistos em pó solúvel para a Fertiplan S/A em S. João da Boa Vista – SP, em 1973.
Os primeiros fertilizantes foliares mistos em pó solúvel e comerciais foram registrados como Nutriplan, para cafeeiros, e Citroplan, para cítricos, lançados em 1973. Hoje são mais de cem empresas disseminadas em todo Brasil. A nutrição foliar, entretanto, não pode e nem deve ser confundida com adubação foliar, porque enquanto esta é o ato da aplicação aquela implica em resultados econômicos, portanto, em desempenho agronômico. Para que os micronutrientes tenham chance de bom desempenho na nutrição foliar é indispensável que fiquem biodisponíveis no simplasto, no entanto, para serem admitidos no simplasto é indispensável o uso de aditivos que estimulem o processo de absorção ativa dos micronutrientes.
É no desenvolvimento desse conjunto de coadjuvantes como aditivos de desempenho das formulações é que será formatado o futuro das empresas especializadas em nutrição foliar. No caso da EUROFORTE esse aditivo foi patenteado e a marca foi registrada como CICLOHEPTOSE. Hoje são mais de 400 mil ha de cana de açúcar das últimas safras e mais de 10 mil ha de bananicultura que testemunham o sucesso da nutrição foliar com micronutrientes pelo BVI (Baixo Volume Integral) segundo a Teoria dos Desequilíbrios Controlados e, ainda, sem qualquer caso de insucesso.
BVBOOSTER® é uma inovação da Euroforte, um fertilizante foliar específico para nutrição das bactérias diazotróficas endofíticas da cana soca e visa a eliminação do uso N-mineral na cana de açúcar. Resultados consolidados em pesquisas e demonstrações de larga escala provaram que o BVBOOSTER® substitui tanto o N-mineral da cobertura em socas quanto o que é comumente adicionado na vinhaça. É sabido que o tema da simbiose da cana com bactérias diazotróficas endofíticas só começou a ser desvendado no início dos anos 80, pela pioneira Engª Agrª Johanna Döbenreiner. Contudo, sobrevivem discussões sobre o potencial efetivo dessas bactérias para eliminação do uso do N-mineral.
O histórico em campo do BVBOOSTER®, nutrindo essas bactérias através da própria hospedeira, em pesquisas nas últimas quatro safras é excepcional e só deve ser entendido à luz da nutrição e estímulo da atividade dessas bactérias da FBN. Além da comprovação objetiva ficou consolidado que é factível a completa eliminação do uso N-mineral na cana de açúcar. A dose do BVBOOSTER®, em valor, é menor do que o da dose habitual de N-mineral (100 a 120 kg N/ha em cobertura) e há ganho muito significativo na produtividade de ATRh que é relativamente maior do que em TCH. Esse fertilizante foliar deve ser aplicado a 11L/ha por autopropelidos e por jato dirigido às folhas da rebrota quando estiver “fechando na linha”. Por aviões é prudente acoplar micronair ou turbo-aero e pulverizar a 15 L/ha (11 L de BVBOOSTER®+ 4 L de água) quando o estande “fechar nas ruas”.
Como funciona o BVBOOSTER®?
A juízo desse autor, a explicação mais sensata para a excelência dos resultados deriva da nutrição e do estímulo à atividade das bactérias diazotróficas endofíticas e, também, do estímulo da organificação da amônia pelas células vegetais. No momento da aplicação a dose de nutrientes é relativamente grande em relação ao volume de massa verde, o que induz um tipo especial de desequilíbrio entre as proporções químicas normais no simplasto. A planta, como todo ser vivo, reage endofiticamente a esse desequilíbrio para retorno ao equilíbrio original, típico da fase de desenvolvimento em que a planta se encontra. Contudo, o mais lógico e provável é admitir que essa reação aconteça preferencialmente pelo metabolismo que predomina na planta, que é o da biossíntese da matéria seca. Na janela fisiológica em que o BVBOOSTER® é aplicado o metabolismo mais ativo e intenso é o da biossíntese de proteínas, que suporta a multiplicação celular intensa. Por isso que os fatos apontam para essa rota preferencial de reação da planta, com que a planta produz maior quantidade de matéria seca e dilui o excesso relativo de micronutrientes, transformando-os em protoenzimas, por exemplo. (Teoria dos Desequilíbrios Controlados de Flávio Pompei-1971/72).
Recomendações do BVBOOSTER:
- As usinas têm, em média, 82% de cana soca de 18% de plantios novos e reformas.
- Na cana soca o cuidado com as aplicações deve levar em conta o porte e eventualidade de estresse hídrico (quando a cana está praticamente no ponto de murcha), quando só fica túrgida à tardezinha e durante a madrugada e manhã, porque absorve a umidade do ar e orvalho.
O porte preferencial é quando a vegetação está fechando na linha e a aplicação por jato dirigido dos autopropelidos. Procurar usar ponteiras cônicas e pelo menos dois bicos por linha. Se a cana estiver entrando em estresse hídrico limitar as pulverizações à tardezinha e, se possível, durante a noite e madrugada, até o sol começar a evaporar o orvalho.
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*Matéria escrita por Flávio Pompei no dia 26 de setembro de 2016.